As câmeras de segurança trouxeram mais dúvidas do que
respostas para o mistério que circulou, de boca em boca, no Mondubim. A oficina
mecânica, a loja de mármore e a autopeças, na avenida Costa e Silva,
amanheceram com os cadeados colados sem nenhuma motivação aparente. Nada pôde
ser aberto sem que as trancas fossem arrombadas. Contrariados, os comerciantes
procuraram imagens do circuito de segurança dos vizinhos e viram o improvável:
uma mulher colava os cadeados.
Em um dos primeiros registros, gravado na madrugada de 15 de
junho, a imagem de pouca qualidade não traz muitos esclarecimentos. A mulher se
agacha e distribui cola nas trancas, sem constrangimento. Era uma cena
estranha, avaliaram. O que eles não esperavam era que o inusitado se repetiria
outras quatro vezes em dois meses.
Na tentativa de resolver os porquês, decidiram instalar uma
nova câmera de segurança, com melhor nitidez, para tentar reconhecer a pessoa.
E conseguiram. “Era uma menina que vendia bombom aqui no sinal (cruzamento da
avenida Presidente Costa e Silva com rua Coronel Tibúrcio). Ela passou mais de
ano por aqui”, resgata o mecânico Fábio Aurélio. “Ninguém sabe o nome dela. Ela
não conversava com ninguém nem interagia”, afirma.
No tempo que passou na lida, não houve laço pela redondeza.
Vez em quando, contam, ela se envolvia em disputa pelo território com outros
vendedores. A mulher, com pouco mais de 20 anos de idade, só deixou o cruzamento
quando a barriga despontou nas camisetas. Pelas imagens das câmeras, dá pra
perceber: a mulher que cola cadeados está grávida. “É ela sim, em todas as
imagens”, defende Fábio.
Outros casos
Longe do Mondubim, os relatos dos cadeados colados foram se
avolumando. Quatro capelas da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias (mórmons) foram alvo, em junho e neste mês. O primeiro registro foi em
Messejana, depois na Lagoa Redonda, Jangurussu e José Walter. A diferença é
que, nesses casos, não teve filmagem.
O bispo José Santiago Júnior, responsável administrativo dos
templos, chegou a pensar que o caso, de tão repetido, tivesse relação com
intolerância religiosa. “Depois soubemos que alguns comércios sofreram também.
Fica mais difícil dizer se teve motivação de intolerância ou se é uma pessoa
perturbada que viu a facilidade dos cadeados e fez”, avalia.
Muito antes de qualquer resposta, a história tomou ares de
lenda urbana. A imagem foi compartilhada à exaustão nas redes sociais na última
semana. Virou meme, crônica e notícia em todo o País. Arriscam se tratar de
performance artística, crítica ao capitalismo ou destemperamento, mas não
existem certezas.
Os boletins de ocorrência também não resolveram muita coisa,
diz o bispo. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não
informou se a mulher foi identificada e limita-se a dizer que os BOs têm de ser
feitos pelas vítimas. Não se sabe se a mulher precisa de apoio psicológico. A
única certeza no Mondubim, bairro onde o inusitado teve início, é que a mulher
engravidou e sumiu do ofício de todos os dias. Ali, nunca mais foi vista, a não
ser nas imagens das câmeras de segurança.
Fonte: O Povo
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