O
pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) criticou nesta terça-feira (27) o
que vê como uma entrada da Justiça brasileira na política. Para ele, é isso que
acontece em momentos como a entrevista do juiz federal Sergio Moro ao programa
Roda Viva, da TV Cultura, e na transmissão de julgamentos do Supremo Tribunal
Federal, como a discussão sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Me
incomoda, por definição, juiz dar entrevista. Sou da velha guarda. Um juiz, ao
explicitar valores, ele entra na política. Este é o universo da política. O
juiz deveria se circunscrever a colocar sua sabedoria jurídica e imparcialidade
a serviço dos autos”, disse, em entrevista após uma palestra na Universidade de
Sussex, no sul da Inglaterra.
Ciro disse
que não chegou a assistir à entrevista de Moro, mas afirmou achar essa
politização da Justiça “exótica”. “Uma TV Justiça transmitindo ao vivo um
julgamento, isso é muito terceiro-mundista, muito provinciano para o meu
gosto”, disse.
Para ele, um
juiz tem que ter transparência não em entrevistas, mas nos autos. “Essa é a
transparência que se espera. Se não, é o universo da política. E a política,
por definição, é o contraditório. A verdade, na política, é uma confrontação
dialética de posições antagônicas”, disse.
Para o
pré-candidato, a viagem para dar palestras em universidades na Europa e nos
Estados Unidos, para onde vai em abril, é importante não só por questão de
prestígio. “Meu objetivo era tentar formar uma corrente de opinião”, disse.
Segundo ele,
é importante gerar um debate amplo sobre o país, pois “a população não presta
atenção em política”, disse. “A população
tem uma vida muito dura, difícil, e a política, para ela, é um ruído que quase
sempre vem associado com coisa muito ruim, muito decepcionante, muito
frustrante. Isso tem a ver com este momento do país”, disse.
Apesar da
avaliação, o pré-candidato disse que ninguém é capaz de superar a vontade
popular na escolha de seus governantes, e que o Brasil é um país de tendência
autoritária. “Nós, brasileiros letrados, temos uma certa impaciência com a
democracia. Ô Negócio chato, desagradável e sem alternativa. Democracia não é
um regime de concessão em que iluminados, uma classe política, esse legado
aristocrático, governam. Isso é antidemocrático. Democracia é regime de
conquista, que presume um cidadão treinado para isso. Não somos treinados.
Nosso povo não foi treinado. Nossa história história é uma história
autoritária. Somos um país autoritário, elitista, escravista”, disse, durante a
palestra.
Fonte:
Folhapress